Lixo no Oceano Pacífico pode ter 2 vezes tamanho do Texas
A bordo do Alguita, mil milhas ao norte do Havaí, em uma área remota do Oceano Pacífico, a centenas de km de uma fronteira nacional, os detritos da vida humana se juntam em um redemoinho tão grande que desafia uma medição precisa. Lâmpadas, garrafas, escovas de dente, palitos de picolé e pequenos pedaços de plástico, cada um do tamanho de um grão de arroz, habitam a mancha de lixo do Pacífico, uma vasta área de detritos que toda década dobra de tamanho e que se acredita ter hoje quase duas vezes o tamanho do Texas.
Uma organização de pesquisa, porém, estima que o lixo na verdade impregna o Pacífico, embora a maioria dele seja detectada no que oceanógrafos chamam de redemoinho, como esse que visitei - onde fortes correntes e fracos ventos mantêm o lixo girando em uma espiral gigantesca. Cientistas afirmam que a porção de lixo é apenas uma das cinco que podem ser detectadas em redemoinhos gigantes espalhados ao redor dos oceanos do mundo. Equipamento pesqueiro abandonado como boias, linha de pesca e redes correspondem a parte dos resíduos, mas outros itens vêm da terra, de galerias pluviais despejadas no mar.
O plástico é o resíduo mais comum por ser leve, durável e um produto onipresente e descartável tanto em sociedades avançadas quanto em desenvolvimento. Ele pode flutuar centenas de km antes de ser pego por um redemoinho e, então, se decompor com o tempo. Mas depois de se partir em pedaços, os fragmentos parecem confete na água. Milhões, bilhões, trilhões e mais dessas partículas flutuam nos redemoinhos repletos de lixo do mundo.
PCB, DDT e outros compostos químicos tóxicos não se dissolvem na água, mas o plástico os absorve como uma esponja. Peixes que se alimentam de plâncton ingerem as minúsculas partículas plásticas. Cientistas da Algalita Marine Research Foundation afirmam que tecidos de peixe contêm alguns dos mesmos componentes do plástico. A hipótese dos cientistas é que as substâncias tóxicas infiltram-se no tecido do peixe por meio do plástico que comem.
Os pesquisadores afirmam que quando um predador - um peixe maior ou uma pessoa - come o peixe que come o plástico, esse predador pode estar transferindo toxinas a seus próprios tecidos, e a concentrações maiores, já que toxinas de múltiplas fontes alimentares podem se acumular no corpo. Charles Moore descobriu a mancha de lixo do Pacífico por acidente há 12 anos, quando passou por ela ao voltar de uma competição de navegação no Havaí. Sob o verão, o capitão Moore transportou três pesquisadores, seu imediato e um jornalista nesta que é sua 10ª viagem científica ao local. Ele está convencido de que várias manchas de lixo semelhantes ainda precisam ser descobertas.
"Em qualquer lugar que você procurar, você vai achar", disse. Muitos cientistas acreditam que exista uma mancha de lixo na costa do Japão e outra no Mar dos Sargaços, no meio do Oceano Atlântico. Bonnie Monteleone, uma pós-graduanda da Universidade da Carolina do Norte, em Wilmington, cujo mestrado trata da acumulação de plástico no oceano, visitou o Mar dos Sargaços no final da primavera e a porção de lixo do Pacífico neste verão com Moore.
"Vi concentrações muito maiores de lixo na porção de detritos do Pacífico do que no Sargaço", disse Monteleone, embora reconheça que talvez não tenha encontrado o redemoinho do Atlântico. Monteleone, uma tripulante voluntária na embarcação de Moore, tinha esperança de ver pelo menos uma amostra coletada da área de lixo do Pacífico sem nenhum resíduo. "Só uma área, só uma", disse ela. "É tudo que queria ver. Mas em todo lugar havia plástico."
A porção de lixo do Pacífico ganhou destaque depois de três organizações de pesquisa marinha independentes terem visitado o local neste verão. Uma delas, Project Kaisei, de São Francisco, tenta desenvolver formas de limpar a área transformando o plástico em diesel. Ambientalistas e celebridades estão usando a mancha para promover suas próprias causas. O grupo sem fins lucrativos de Ted Danson, o Oceana, considerou Moore um heroi por seu trabalho na área. Outra figura de Hollywood, Edward Norton, narrou um anúncio de utilidade pública sobre sacolas plásticas, que acabam se juntando ao lixo flutuante.
Moore, porém, é o primeiro a realizar pesquisas científicas sérias coletando amostragens da porção de lixo. Em 1999, ele fez com que a fundação Algalita se dedicasse ao estudo da área. Agora, a fundação examina os resíduos plásticos e coleta amostras da água poluída na costa da Califórnia e através do Oceano Pacífico. Ao arrastar uma fina tela com seu navio de pesquisa Alguita, um catamarã de alumínio de 15 m, Moore consegue coletar pequenos fragmentos plásticos.
Os pesquisadores medem a quantidade de plástico em cada amostra e calculam o peso de cada fragmento. Eles também testam o tecido de qualquer peixe capturado nas redes em busca de substâncias tóxicas. Um peixe-rei coletado em uma viagem anterior tinha 84 pedaços de plástico no estômago.
A equipe de pesquisa ainda não testou as últimas capturas para constatar substâncias tóxicas, mas as amostras d'água mostram que a quantidade de plástico no redemoinho e no Pacífico está aumentando. Amostras da água de fevereiro continham duas vezes mais plástico do que há uma década. "Essa não é porção de lixo que encontrei em 1999", disse Moore. "Isso é um animal completamente diferente."
Para o imediato do capitão, Jeffery Ernst, a porção é "só um lembrete de que não há nenhum lugar que não seja afetado pela humanidade".
Temos que fazer alguma coisa já.
ResponderExcluirPorque ainda não foram tomadas providências?
ResponderExcluirO que falta?